quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Três pontinhos: Está escrito


Eu havia recém entrado no ônibus. Sentei no banco da janela, já que quem sentaria ali não apareceu. Escorei minha cabeça no vidro e comecei a olhar para rua e as pessoas que nela estavam, havia gente indo pro trabalho as seis da manhã. Havia uma criança dormindo no colo da que deduzi ser a mãe. Pensar que talvez eu nunca mais verei esses rostos que eu acabei de conhecer. Quais são as chances de me encontrar com eles em uma cidade  que fica a 23 horas daqui? Se eles fizerem parte do meu destino eles estarão lá, mas creio que nunca mais os verei.
O ônibus começou a andar e eu coloquei o fone de ouvido, fechei os olhos e comecei a escutar as músicas da minha playlist pra viagem. No momento que fechei os olhos senti alguém encostando no meu ombro, na mesma hora abri os olhos assustada.
-Com licença - Disse uma voz masculina - Desculpe te assustar, mas eu comprei passagem para o banco em que tu estás sentada.
-Ah, desculpe. - Falei envergonhada ao pegar meu travesseiro e ir para o banco do corredor.
Me sentei no banco enquanto observava o garoto, que aparentava 20 e poucos anos, arrumar as suas coisa no bagageiro a cima da minha cabeça. Ele terminou e fingi mexer no meu celular.
Ele passou na minha frente para sentar e pude ver uma tatuagem em seu pulso, eu simplesmente amava garotos com tatuagens.
Comecei a escutar música de novo, mas bem baixinho para não ser surpreendida novamente.
-Tu estás indo para aonde? - Pediu o garoto olhando para mim.
-Eu? - Perguntei tirando os fones do ouvido.
Ele olhou balançando a cabeça e afirmando.
-Estou indo para uma cidade a 23 horas daqui.
-Qual cidade? - Pediu - Se tu me permite perguntar, claro.
-Eu não sei que cidade é, só sei que é em outro estado.
-Como tu não sabe o destino da tua viagem?
-Espera, se tu tá no mesmo ônibus que eu, tu não está indo ao mesmo lugar que eu?
-Estou. - Ele riu
-Então porque tu perguntou? - Disse rindo delicadamente
-Pra puxar papo. Eu sou o Pedro - Disse ame dando a mão para apertar
-Geórgia. - Disse apertando sua mão. Posso segurar para sempre?
-Então, o que te traz a um ônibus que tu não sabe o destino?
-Experiência. Apenas pedi uma passagem pro lugar mais longe. E esse era o ônibus que me levaria até lá.
-Interessante. Garanto que tu tem um motivo, não tem?
-Conhecer gente nova, uma cidade nova, um estado novo, enfim, experiência. E tu? O que te leva para essa cidade? Por favor, não me diz que cidade é. - Rimos
-Eu nasci lá. Vim fazer faculdade aqui no sul e agora estou voltando formado.
-Qual a sua idade?
-Vinte e quatro e tu? - Meu palpite estava certo
-Dezenove.
-Já faz faculdade?
- Não. Ainda não decidi o que fazer. E tu é formado em que?
-Jornalismo. - Disse coçando o queixo e deixando sua tatuagem a mostra novamente.
-O que é essa tatuagem no seu pulso?
-Il est écrit.
-O que quer dizer isso?
- "Está escrito", em francês. Gosto muito de francês e dessa frase.

A viagem passou logo, as vinte e três horas foram as mais curtas da minha vida e as mais aproveitadas. A frase de Pedro agora está tatuada em meu pulso também. Hoje tenho 24 anos e Pedro 29. Nos casamos quando eu tinha 21. Será que se eu não tivesse escolhido ir para um destino novo e que eu nem sabia qual era, eu não teria o conhecido? Ou será que é o destino e está escrito?
M.D.M.

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